Vida de Valquíria

Foram 4 meses sem publicar, não fui muito longe, estou a 3000 km de casa. Vim para cá a 11 de Outubro. A vida por aqui é tranquila e não se passa necessidades, já à procura do 2º emprego. Chove, faz frio e ocasionalmente neva. Sinto-me à mesma em casa. Não me sinto numa luta constante mas a seguir um caminho, se é certo ou errado não se aplica, é um caminho e o que não gostar mudo. K

Sempre te conheci de cabelos brancos e sedosos, quando nasci já os tinhas assim às uns bons anos, segundo me disseram foi de repente, sempre gostei deles, brancos como o sal, fortes como tu e suaves como a maneira que tratavas de mim e de todos nós. Não usavas cá nada daquelas restemengas de supermercado que hoje usamos, lavavas o cabelo com vinagre e amaciavas com um bocadinho de azeite, um dia perguntei porque temperavas o cabelo como a mãe fazia com a salada. As tuas mãos sempre refletiram o tempo que por ti tinha passado, os dedos tortos de tanto trabalho, mas as palmas suaves com todas as linhas definidas como tu sempre foste.  Não sabias ler nem escrever mas quando ía-mos à Praça da Ribeira não havia peixeira que te metesse um centavo a mais que fosse na conta, e sabias sempre quem era mais ou menos honesto pela conversa que te davam, ainda me lembro que os melhores queijos eram na senhora Alzira que os vendia numa espécie de casinha verde por baixo das escadas q...

Quero gritar com todas as forças e expulsar tudo de dentro de mim. Quero reencontrar a valquíria. Quero sentir aquela força que me mantinha e fazia de mim rochedo. Mereço ser feliz, mereço ser eu outra vez. K

Gostar de alguém nem sempre nos faz bem, nem sempre é o melhor sentimento do mundo, nem sempre é sinónimo de algum tipo de felicidade. Gostar de alguém implica alguns dissabores, é normal. Umas zangas, uns momentos mais tensos, mas gostar de alguém que não nos liga patavina, que nos faz sentir a mais, cujas palavras por mais desprendidas que sejam nos magoam, não é bom, é doentio, faz mal à nossa auto-estima, faz mal ao nosso futuro enquanto seres humanos. E eu gosto de alguém assim, e tenho medo, tenho muito mas mesmo muito medo do que isso me esteja a fazer e do que isso diz sobre mim enquanto ser humano. Sei que tenho de parar com isto, mas custa, oh se custa. K

Escrever sobre o amor em português é dar-lhe automaticamente um tom sofrido, derradeiro e de fazer chorar as pedras da calçada, em inglês fica uma coisinha mais bonita e elevada, ora veja-se: Português: Provavelmente és o amor da minha vida mas nunca o saberemos. Inglês: Probably you are the love of my life but we will never know it. Parece-me que o português tem consigo um tom mais definitivo, sem remédio, sem esperança. Acho que prefiro amar em inglês. Nem vale a pena dizer como a coisa soa em alemão, dá arrepios: "Wahrscheinlich sind Sie der Liebe meines Lebens, aber nie wissen". Belheque!!! Fico-me no inglês, pelo menos para já. K

NÃO TE AMO Não te amo, quero-te: o amar vem d'alma. E eu n'alma --- tenho a calma, A calma --- do jazigo. Ai! não te amo, não. Não te amo, quero-te: o amor é vida. E a vida --- nem sentida A trago eu já comigo. Ai, não te amo, não! Ai! não te amo, não; e só te quero De um querer bruto e fero Que o sangue me devora, Não chega ao coração. Não te amo. És bela; e eu não te amo, ó bela. Quem ama a aziaga estrela Que lhe luz na má hora Da sua perdição? E quero-te, e não te amo, que é forçado, De mau feitiço azado Este indigno furor. Mas oh! não te amo, não. E infame sou, porque te quero; e tanto Que de mim tenho espanto, De ti medo e terror... Mas amar!... não te amo, não. Almeida Garrett

Olhar nos olhos de alguém que já teve tanto e hoje não tem nada, que procura um emprego que teima em não aparecer e que quando aparece são vigarices com o intuito de "roubar" mais um dia a uma alma que se esforça por sobreviver. É difícil ver estampado no rosto o desalento e o cansaço de um esforço vão a quem tudo lhe foi roubado, alguém que um dia só fez bem e agora é pontapeado pela vida e pelos que sempre acarinhou e ajudou. É difícil vê-lo na expressão de um pai, mais difícil ainda quando é o nosso pai, que mesmo quando já nada tem ainda está na eminência de perder a pessoa que sempre amou porque já não tem as possibilidades que tinha. Em quatro anos vi a queda de um gladiador, em quatro anos tudo mudou e sinto-me na responsabilidade de lhe agarrar a mão e dizer para não desistir, que hoje sabemos quem são os nossos amigos e que um dia estaremos bem de novo e que vamos correr com todos os abutres deste navio. Por muito que soe a vingança é o meu desejo para ele, que um...

Cada um tem a sua definição, para uns é ter bens materiais e passar o tempo todo contente, para outros é ter aquele amor, ter qualidade de vida, entre outras. Para mim é ultrapassar um obstáculo, amar, ser amada, rir, rir muito, é ter por perto os que me são queridos, é ter saúde, é não passar necessidades, é saber que tenho apoio nos maus momentos, é poder ter tempo para mim e para os outros, é receber uma chamada a dizer que têem saudades minhas, a felicidade não é um sentimento, não tem um definição específica, é um conjunto de factores pelos quais luto diariamente mesmo quando as lágrimas me caem pelo rosto, mesmo quando o cansaço me manda ao chão, porque uma valquíria levanta-se sempre, mesmo quando quer desistir. K

Dividiram tudo o que acumularam em 10 anos, dividiram as culpas, as faltas, as falhas, demonstraram o carinho que os unia e perceberam que era apenas isso, a casa está à espera de ser vendida mas ela fez as malas e foi viver a vida que devia ter vivido antes de se juntarem, eram demasiado novos, e juntos ficaram demasiado velhos e acomodados. Ela é a minha melhor amiga, a minha irmã de alma, a minha pessoa, foi viver para Londres que lhe fica muito bem no estilo, sinto-lhe a falta imensa mas sei que é feliz, a minha pequenina é finalmente feliz e isso é que interessa. K

Mais um fim de semana sem um único convite para sair, que giro. Não. Nada giro. Passei o Santo António em casa porque ninguém se lembrou da minha existência, essa é a verdade, não foi porque não me apetecia, foi porque não tinha ninguém com quem sair. Estou a ficar preocupada com a vida que estou a levar e não estou a achar gracinha nenhuma. K

Iguais

Ontem fui ter com um conhecido, sim, conhecido porque para ser amigo tem de ser alguém com quem eu já tenha partilhado algumas experiências e o considere como tal, portanto, fui ter com esse conhecido para um café, a conversa estava boa e foi-se prolongando até quase às 22h, acabámos por ir jantar à Merendeira na 24 de Julho e a conversa continuou até ao Parque das Nações, nisto, e do nada, prega-me um beijo!!! Mas que raio!!! Mas isto agora é assim? Vê-se uma pessoa duas vezes e toma lá um beijo! Perguntei a que propósito vinha aquilo e a resposta foi: porque me apetecia. Mas já não à respeito pelos limites pessoais de cada um? Já não interessa saber primeiro se as pessoas estão para aí viradas? De onde é que se tira a ideia de que se prega um beijo a uma pessoa sem ter a mínima noção da predisposição alheia? Eu sei, e tenho a certeza absoluta de que não dei qualquer indício de que podia avançar nesse sentido, logo, a minha grande dúvida é de onde vem este "à vontade", n...

Já não me interessa o que fazes contigo. Já não me interessa o que podias fazer comigo, o que podíamos ser. Não desisti de ti, eu não desisto de nada, tu já desistis-te de ti mesmo e de tudo o resto à tua volta, eu por outro lado já não tenho força ou disposição para sofrer por tua causa, basta! Eu vou fazer a minha vida, aprender as minhas lições e deixar que me tratem como eu mereço, quanto a amizade também não sei se me interessa pois tu não és capaz de te comprometer com nada nem ninguém a não ser com as tuas trivialidades. Vou sempre gostar do teu "eu" que conheci primeiro, mas só isso, uma bonita lembrança. K